segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Marrento




Dizem que dor de parto a gente esquece. Mentira! A gente não esquece. Há exatamente 14 anos atrás eu senti aquela dor insuportável que não esquecerei jamais! Na verdade a gente substitui a dor por tantas alegrias que subsequentemente aparecem com o aparecimento do filho. A gente não esque do primeiro passinho, da primeira palavra, do primeiro choro forte! Ah, esse é tão forte, que a gente fica sem saber o que fazer! Mas então, há 14 anos nascia meu único filho. Não me esqueço os olhinhos dele. Eram tão puxados, que parecia que tinham sido abertos (cortados mesmo) com uma gilete. Não esqueço a mãozinha gorda, o pé tão perfeito, o cabelo preto e arrepiado. Tudo isso substituído por uma mãozona, um pezão com calos de jogar bola e a cara cheia de espinhas... Como o tempo passa. Meu bebê, como o chamo, é muito pirracento, marrento e sabe muito bem o quer e o que não quer. Mas ao mesmo tempo é muito carinhoso, do seu jeito, até hoje me beija antes de dormir, me chama de velha, de nega e quando a coisa aperta grita: " Mamãe!" Gostaria de falar do amor de mãe. Querendo ou não é um amor diferente, a gente sente que daria tudo pra ver o filho bem, até a própria vida. Quantas vezes desejei estar no lugar do meu filho pra não vê-lo sofrer... O tempo passa, sei daqui mais algum tempo talvez não esteja mais com ele, porque vai estudar, casar, ter filhos, mas nunca vai deixar de ser o meu bebê. Sócrates, felicidade sempre! E muito juízo!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pai

Lembro bem da minha figurinha pequena, com uma chupeta na boca e uma fralda na mão pedindo pra minha mãe o travesseiro dele. Nessa época morávamos em uma dessas cidadezinhas do interior de Mato Grosso do Sul (Glória, Fátima) isso não me lembro. Mas lembro muito bem que o travesseiro do meu pai tinha uma textura e é claro um cheiro incomparável. E como nesse tempo ele (meu pai) viajava muito, pois era subgerente do extinto Banco Bamerindus, eu queria dormir sentindo seu cheiro. Digo lembro, não apenas por dizer, mas porque lembro mesmo, tudo é muito nítido em minha memória. Assim como a primeira vez que ele me chamou de Nina. Lembro que disse : "Pai eu não chamo Nina" E ele: Agora você é a Nina. E toda a minha família e os amigos mais íntimos até hoje me chamam assim. Aliás ele sempre teve mania de colocar apelido nos filhos: todos nós chamávamos Isabela de Bela ou Belinha. Ele não, pra ele era Bebel. O Eros era Eros gônio(rs). A Gabriela era Bibi, depois ficou Bibica. Meu pai, quando pequena era meu herói mesmo. A gente saía junto pra eu cortar o cabelo. Ficava sempre ao lado dele enquanto ele lavava seu carro. Nos ensinou a ler, é claro que minha mãe contribuiu para isso. Mas ele era sócio do Clube do livro, então sempre esbarrávamos pela casa com um livro e isso nos despertou o interesse pela leitura. Ele conta que na época em que estudava no Seminário lia dicionários, então imagina como seu vocabulátio é rico. Mais tarde , confesso perdi um pouco o interesse por ele. Mas hoje consigo admirá-lo com todos os seus defeitos ou qualidades. Sei que é muito adultescente, acho que o puxei nisso. Chora fácil, principalmente quando estamos reunidos eu, ele e os outros filhos. Qualquer palhaçadinha é motivo pra ele chorar. Tenta disfarçar, mas não consegue. O Arizinho, como muitos o conhecem tem sim, muitos defeitos, mas é duro no trabalho e competente em tudo aquilo que faz. Tanta gente fala isso ou aquilo dele, mas se ele não fosse competente, não era a sua companhia que o prefeito escolheria para ir para todos os cantos. Quietinho no seu canto faz articulações de gigante e tem uma mentalidade dez, vinte anos à sua frente. Meu pai agora voltou a ser meu herói. Tudo bem que seja um herói com a asa quebrada ou com a capa meio surrada, mas é meu herói. Aprendi que quando entendemos todas as aflições, medos, encantos, defeitos, atitudes, qualidades, a gente acaba aprendendo que nosso pai é o nosso herói, independente de qualquer coisa.