segunda-feira, 1 de março de 2010

Conto Triste


João era um homem comum. Casado com uma esposa comum, muito trabalhadeira, tinha 2 filhos, um menino e uma menina, João porém, tinha um dom especial, o dom da música. Tocava vários instrumentos e dava aulas de música em sua casa. Sua esposa, tinha seu emprego fixo e a renda de João não era suficiente para manter a casa e os dois filhos. A esposa sempre cobrava de João mais interesse com as despesas da casa e outras mais. João levava sua vida monótona, mas, feliz. Vez ou outra era convidado para tocar em um barzinho chique da cidade vizinha e ganhava uns troquinhos para ajudar a esposa na despesa do lar.Tocou também com um flautista que tinha como ponto fraco o calcanhar.
A casa de João tinha de tudo, era casa própria, tinham, ele e a esposa, carro e moto e sua coleção de discos raros de vinil. Ele fazia bico de sonoplasta e tinha seu programa em uma rádio local, para complementar sua renda mensal. Certo dia, ao entrar na rádio pra pegar um CD que havia esquecido, fora do horário de seu programa, algo mudou na vida de João. Tão acostumado ao cheiro de lavanda de sua esposa, às roupas comuns que ela usava, não podia-se dizer que era feia, mas era uma mulher comum. Ao entrar no recinto da rádio João sentiu um cheiro suave de flores, com um toque adocicado de frutas silvestres. O cheiro ia desde o corredor até o estúdio onde ele iria pegar o Cd esquecido. Foi quando resolveu seguir o cheiro agradável e dar uma olhada no estúdio de programação. Lá estava ela. Lábios cor de açaí, cabelos negros caíam-lhe desde os ombros até as costas, numa enorme cascata macia. Os olhos eram amendoados e de um castanho profundo, quase negros. Vestia saia muito custa e a barriga de fora mostrava um piecing no umbigo. Ela olhou de um jeito meio chateado, por ter sido interrompida no meio de seu programa vespertino. Depois suavizou o olhar, colocou uma música pra tocar e cumprimentou: "Oi". E João respondeu meio atordoado, meio zonzo pelo cheio agradável e pela imagem linda à sua frente : "Ooi. Vim buscar um CD que esqueci." E ela respondeu: " Tá". E voltou à mesa de som e ao seu programa, normalmente.
Pela noite, João sentado na sala de sua casa, ouvia longe a voz dos dois filhos brincando, enquanto a esposa fazia o jantar. Não saía da sua cabeça, a cor daqueles olhos, do cabelo, imaginava como seria agradável tocá-los, sentir o cheiro agradável mais de perto. De repente João desejava intensamente sair da monotonia estressante em que vivia. Desejou tocar em uma banda, mostrar sua música para o mundo, desejou ser desejado, mas por ela: a menida de cheiro adocicado e de nome de menina que só usa rosa.
O tempo passou e João não mais parou de passar sempre na Rádio no horário do programa da menina com cheiro doce, de olhos amendoados e cabelos negros. Sempre inventava uma desculpa. E ela sempe era e. Tratava-o bem, elogiava-o, dizia que ele tocava muto bem sua guitarra. E João foi tomando gosto pela coisa. Quando percebeu, seus lábios estavam colados aos da menina doce. Quando se deu conta novamente, tinha se atrasado para o jantar, pra ficar mais tempo com a menina doce. João saiu completamente do seu mundinho e agora sentia-se valorizado. Sentia que era mesmo muito bom na sua guitarra, sentia que podia ser olhado, desejado, tratado com carinho...E se entregou à paixão pela doce menina. Saiu de casa, divorciou da mulher, prometeu pensão para os filhos e quando acordou estava morando com a doce menina, tocando em uma banda popular, fazendo shows, fazendo sucesso, com sua guitarra e sua doce menina. João cantava pra ela e podia vislumbrar seu corpo perfeito, seu umbigo com piercing, podia tocar os cabelos macios e sempre com aquele cheiro agradável e adocicado, gostoso de sentir. João e a menina doce passaram um ano em plena lua de mel. Ele agora sentia-se amado, pois nos shows a doce menina tinha ciúme de tudo e de todas, até das dançarinas da banda em que João tocava. No fundo esse sentimento de valorização massageava seu ego. E João foi levando sua nova vida de músico famoso, com muitos shows marcados. Via os filhos sempre, nunca perto da doce menina. Sua vida era perfeita e ele era o homem mais feliz do mundo, mesmo morando em uma pequena casinha de aluguel, tinha em sua cama a doce menina, de negros cabelos, corpo perfeito e que tinha ciúme de tudo o que ele fazia e tinha também seus discos de vinil e sua guitarra. Tocava na uma banda famosa local e ainda fazia bicos tocando para outros cantores da cidade vizinha e uma dulpa de meninas na cidade onde morava, sempre com a doce menina por perto. Tudo perfeito.
O que João não sabia é que tudo vira monotonia. O ciúme doentio da doce menina tomou conta da relação. Vieram as brigas, as disputas da doce menina com os filhos, brigas, discussões.
De repente vinis quebrados no chão do quarto da casinha que outrora fora o paraíso. Discos dos Beatles! Tudo acabado entre João e a doce menina. Até o cheiro suave virou monotonia.
Hoje João, que é mesmo fera na guitarra e no violão, não toca mais na Banda famosa local. Continua na Rádio com seu programa matinal e aos finais de semana se apresenta na cidade vizinha em um barzinho famoso e chique, com um ótimo cantor. João é coadjuvante, mas sonha ser ator principal da vida que vive monotonamente. Seu talento é esplendoroso. Faz qualquer violão com cordas de naylon, "cantar" graciosamente, com seus dedos precisos, com seu talento maior: a música. João certamente será um grande artista de cidade grande e, um dia vai tocar em uma banda famosa nacional. Voa com sua guitarra, grande João! Vá de encontro a sua felicidade!

2 comentários:

  1. Um texto bem escrito ! Gostei muito é bem reflexivo.

    Continue escrevendo.

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  2. Eu sei, gostei muito! Adorei a parte do "nome de menina que só usa rosa" hehehe muuuit bem bolado! Do calcanhar tbm! te amo irmã, sempre preocupada com todos

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